Outros toques, além dos que dóem
Conversei com Diego Azevedo (autor de Mares do Sertão, Movi'n On, Caçadas Primais, entre outros jogos) sobre a nossa relação com jogos, no tempo.
Não raras são as vezes quando avaliamos um jogo que criamos e observamos que estamos em uma outra vivência, pensando em outras questões. E quase sempre reacessamos sentimentos, questões e vivências ao redor da produção e publicação de vários jogos.
Como o sangramento se descobriu parte de meu processo criativo, estes momentos são particularmente vorazes. Desabei no DOFF de 22 não por acaso. Tremores. Tremores.
Mas as questões vão além do processo de escrita e desenvolvimento (que não são paralelos, aliás). A edição, a publicação e todo o processo nos bastidores também nos atravessa. E nos enxergamos no reflexo de tantos espelhos quebrados.
E quando fica a cicatriz, fica difícil de esquecer. Meu xará du Peixe tá aqui na orelha, e desde cedo aprendi que é importante carregar o peso do nosso som pra onde formos.
Por isso que, ainda em sangue e dor, Pesadelos Terríveis e Ceifadores machuca bem menos que Déloyal e Herdeiros dos Antigos. Ainda que os últimos sejam muito relevantes para minha ludovivência, eles são joelho de crianca em areola e brita.
Os temas dos 2 primeiros são tão ou mais densos que os últimos, mas tudo que está abaixo da linha da água dos últimos faz o iceberg mais duro e gelado que possa carregar. E nunca gostei de regra de carga. Ando solto, em deriva. Deixo redutores pra trás.
Por isso, também, a fuga aos jogos-ensaios, às zines impressas por mim, ao abraço ao pequeno, independente e macio. Não há por que lutar até o fim. A gente dá uma quebra e samba no miudinho. Quarenta páginas, grampo, jogo periférico, gambiarra: PEI!
Meu ciclo de luto e dor (tema de outra reflexão) foi também o não-impresso que se imprime em todos que mergulham nos turvos mares mágicos que fazem de ideias livros. E não apenas meus, aliás.
Felizmente Lições, Arquivos Paranormais, Encantos, Ceifadores e tantos outros jogos tiveram o toque em acordes maiores. E nestes, ressoarão outros projetos.
Num paralelo à produção musical, temos novas canções a mostrar, mas os "grandes sucessos" ecoam. Talvez a gente se veja mais nos singles-bússolas: miram noutras direções.
2001, Rock in Rio, Silverchair. Ninguém pilhando nas músicas do Diorama e o Daniel rasurando Freak e outras enquanto se entregava em Across The Night. É um pouco disso.
Não que Arquivos Paranormais não seja relevante. Mas O Bonde é Fantástico demais pra deixar o pega-varetas guardado numa caixa de memórias.
Minha ludovivência é experimento, brincante, em todo processo. Fugir é também caminho. Cruzos ensinam desvios, encontros e enganos. Talvez chegue ao caminho Errante. Até lá, aprendo a ser mambembe, saltimbanco, na Trupe. Afinal, jogo é partilha.