Marcha para o oeste e jogos
Há alguns dias, comentei sobre o conceito west marches aplicado em jogos. Apenas sugeri uma busca sobre o mesmo.
Pensei que seria algo tranquilo, pois. Não houve o endereçamento de críticas a pessoas ou a formas de jogar. Apenas um comentário sobre um termo que aponta para a cultura política estadunidense.
Pausa. Sei da existência da jornada para oeste em narrativas tradicionais asiáticas. Mas a marcha para o oeste em questão refere-se à complexa expansão territorial dos EUA.
Felizmente, a maior parte das pessoas compreendeu os problemas de transpor conceitos e práticas que se relacionam ao “destino manifesto”, ao “fardo do homem branco” e ao “homem comum, que se constrói na fronteira” às narrativas jogadas.
Pouco tempo depois, dividi um vídeo de dois professores especialistas em História dos EUA que explicam as nuances em torno do oeste estadunidense e suas implicações para o imaginário político daquele país, exportados por meio da indústria cultural.
Inclusive, merece atenção o trecho que trata o resgate nos anos 70–80 do “homem comum, não-academico ou fraco, forjado sobre sua própria jornada livre nos ermos, onde ele é a lei” pelos republicanos. Reagan era ator de filmes de faroeste, vale comentar.
(Link do vídeo aqui: https://youtu.be/qfHSkk7UaIw)
Ainda na postagem, surgiam falas relacionando o termo e as práticas a um estilo de jogo. E foi curioso ler comentários que associavam o meu texto (?) a esta crítica “endereçada”.
Contudo, é possível mobilizar o conceito west marches em jogos de Dungeons & Dragons 5 ed, Valkíria, Dungeon World, Forbidden Lands, Tormenta, Saqueadores do Destino, Gurps, Fate, etc.
Ou seja, não se trata de um ataque a um ou outro estilo de jogo (ou modalidade/modo de jogar), mas uma crítica a uma prática colonial projetada por meio de conceitos e valores normalmente tomados acriticamente, a despeito da plataforma usada para jogar histórias.
Vale destacar que associações a atitudes coloniais a um modo de jogar costumam ser simplistas e hackeiam a comunidade de uma forma muito complicada.
Buscar “tretas” e engajar com as mesmas, até mesmo atribuindo posturas “anti-x” a textos sem tais implicações realiza o oposto à minha postura.
Seja em falas, jogos que crio, aventuras que narro (se você jogou aquela partida de Ceifadores na Point HQ vai lembrar de como tratei a colonialidade, por exemplo), lido com debates com complexidade.
Pode demorar, mas não há pressa para tanto. O papo é cauteloso e o processo é lento.
Bônus: Há um segmento da história de Belregard que critica a expansão da sociedade pré-cataclisma. Basta ler com cautela para notar como os tropos da marcha para o oeste foram tratados de forma crítica.