Limitações

Noite com transmissões de vídeo e consequências no dia seguinte. Durmo muito mal. Tenho vertigem durante o processo. Fico com dores de cabeça. Sinto-me enjoado.

Desde quando jogava online, sentia isso, num maior ou menor grau. Mas o mundo pandêmico, de aulas e “lives”, intensificou tudo isso.

O quadro é mais complexo que o simples mal-estar. Tenho uma grande sensibilidade a estímulos audiovisuais, e sigo uma série de cuidados e procedimentos orientados para ter uma qualidade de vida melhor. Ainda assim, há limitações.

Ver a minha própria face, observar janelinhas com outras cabeças olhando, a interação com o chat. Fone de ouvido. “Fala outra vez que eu não entendi”. Não raras são as vezes que desvio o olhar. A câmera desligada é menos agressiva, e não é raro que encontre este desvio para seguir.

Recentemente eu passei mal de verdade numa atividade com vídeo online. Decidi fazer um lanche durante a conversa com amigos. O enjoo veio e foi horrível. Senti-me numa montanha russa depois de comer uns três podrões.

Basta marcar algo com vídeo que a ansiedade vem. Eu marco na agenda com aquela expectativa complicada. Mas, noutra margem do rio, quando em shows ou imerso no audiovisual, me conecto profundamente e, não raro, tenho experiências que alteram um tanto minha percepção. E isso é algo que curto bastante.

Mas eu acho que o que é mais delicicado nisso tudo é assumir publicamente estas coisas. A gente é criado ocultando fragilidades e limitações. Evito super exposições à luz, mesmo sendo prioritariamente diurno (e da manhãzinha, acordo 5h todos os dias), vejo uma aba por vez nos navegadores, dou atenção a um estimo por vez, quando posso os selecionar, uso abafadores de som sempre ao sair de casa e me afasto de telas pelo menos de 30-60min antes de ir pra cama. Estas coisas, que parecem pequenas, mas que melhoram um tanto a minha vida.

E talvez seja por isso que não consigo ter “música de fundo”, pois se algo tiver tocando, vou prestar atenção naquilo e desfocar na minha escrita. E talvez seja por isso que tanto apreço tenho pelas letras, pelo texto, por livros. Não me sinto relaxado como estou agora em audiovisual, e quanto mais fontes de estímulo, mais tenso fico. Daí que, um papel ou espaço para escrever me acolhem com a maciez que preciso para me expressar.

Não obstante, sei que minha limitação vai me colocar um tanto afastado de algumas audiências. Sei que vídeos são comuns e, quando possível seguirei participando de entrevistas, jogos e outras produções audiovisuais. Sigam me chamando, viu? Mas peço um pouco de paciência e carinho pois preciso de procedimentos que talvez outras pessoas não precisem. É por isso que, beirando o tardar das horas, sei que não vou conseguir dormir, por exemplo.

Espero encontrar vocês nas letras que costuro com carinho. Aqui, o descanso vem. Macio.