Interpretando papéis na comunidade

Jorge dos Santos Valpaços
3 min readAug 29, 2020

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Tudo começou com um tuíte de Tef, da Ordem do Dado.

Aquilo foi um gatilho para refletir sobre alguns comportamentos comuns que podem ter impactos negativos em fóruns sobre jogos.

1. "Não sabe ler?"

Não é raro topar com dúvidas sobre a compreensão de uma regra, de alguma mecânica em fóruns de jogos narrativos. Vira e mexe respostas como "leia o livro" aparecem. Mas talvez quem perguntou apenas tenha jogado e não possui o livro. O manual pode ser confuso ou com uma linguagem que favorece jogadores experientes. Ou ainda, e não há problema algum nisso, a pessoa pode não ter compreendido.

Um dos impactos destes comportamentos é a inibição das dúvidas e de interações por parte de novos jogadores. Cada qual possui um ritmo de aprendizagem e precisamos ser acolhedores a todos que desejam jogar. Buscar responder não indicando a página do livro, mas explicando, descrevendo e dando ao menos um exemplo é mais eficaz, já que sua resposta pode ajudar outros que possuem a mesma dúvida.

2. "Ah, isso é assim no jogo x!"

Não é raro que, em meio a um debate, comecem citações e citações de jogos, regras, mecânicas e autores, pressupondo que todos tenham a mesma bagagem que você. Todos temos nossos gostos e é super comum que listemos os títulos que mais curtimos, mas vez por outra usamos o espaço mais para inflar nossos egos citando jogos que efetivamente entrando na conversa, dialogando e falando sobre o assunto que foi puxado.

Se a pergunta foi sobre um jogo específico, é ok usar os seus termos. Mas já que o tópico é aberto e a dúvida não foi orientada, considero interessante publicizar o que a regra ou mecânica trata, e não referir a outro jogo sem qualquer explicação. Além de reduzir ruídos, torna o debate público, muitas vezes despertando interesse de um leitor que não conhece as minúcias do jogo.

3. "A grama do vizinho é mais verde"

Não é raro, mesmo em grupos de criadores de jogos brasileiros, que a nossa produção não faça parte de indicações ou exemplos. Algum jogador pede dicas de jogos de terror e dificilmente há referências de jogos de autores brasileiros, mesmo havendo uma boa quantidade de publicações de qualidade. Jogos vencedores de prêmios são citados, bem como títulos recentes ou de grande apelo ou tradição. Seria vergonha do nacional? A elipse não é um indício também?

Não se trata de um nacionalismo torpe, longe disso. Ocorre que estamos em um momento muito interessante quanto a diversidade de projetos e publicações. Fazer parte desta cena e explorar o que é publicado cria pontes. Jogos brasileiros são mais acessíveis em sua maioria e tenho certeza que muita gente vai se surpreender com eles. Talvez você dê uma indicação mais interessante de um jogo independente brasileiro do que de outro em uma língua que não é dominada por quem perguntou, por exemplo.

4. Caminhos

Este breve comentário passa longe de ser uma receita pronta, um manual de como interagir em grupos. Tampouco desejo regular os hábitos de cada um, mas penso que a forma pela qual nos expressamos seja muito importante para criarmos uma comunidade mais bacana.

Tento seguir estes 3 pilares: 1. ser coeso e detalhar as explicações, com uma postura generosa às dúvidas; 2. reduzir ao máximo referências que seriam entendidas apenas por um grupo pequeno de pessoas; 3. recomendar positivamente jogos e pessoas da cena brasileira.

Sigamos em jogo. :)

Jorge Valpaços (@valpacosjorge) é membro do coletivo Lampião Game Studio. Siga o Lampião no Instagram (@lampiaogamestudio) e no Twitter (@lampiaoGS).

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