Impressões sobre Onyx Equinox

Jorge dos Santos Valpaços
2 min readFeb 6, 2021

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Recentemente concluí a primeira temporada e Onyx Equinox e deixo aqui a recomendação de uma animação complexa e que fornece inúmeras questões a se pensar quando lidamos com narrativas, mitos e circulações midiáticas contemporâneas.

Acompanhamos Izel, um garoto de Uxmal que perde sua irmã em um rito sacrificial. Junto à jornada, vemos tramas de deuses em diferentes planos, desenvolvimentos de personagens complexas e deslocamentos de tropos narrativos heroicos.

Mas tais nuances são negociadas dentro do formato de publicação da série, na qual conceitos de “equipe”, uma estrutura de animações de aventura (com diálogo aberto com animações japonesas) e outras convenções se fazem presentes.

Entretanto, engana-se quem pensa que vai encontrar uma animação genérica que apenas se apropria de culturas mesoamericanas. E aí está seu grande trunfo.

Além da profunda e minuciosa pesquisa histórica e arqueológica, que se atesta desde às roupas vestidas, passando pela fauna, flora, alimentação e arquitetura, destaco o cuidado para tratar detalhes como nomes e a própria representação de deuses.

Sofia Alexander, criadora de Onyx Equinox, foge de moralismos ou binarismos e cria uma trama complexa e sombria sobre o destino das pessoas e dos deuses por trás de uma aposta entre deuses-conceitos antípodas e complementares.

As personagens são frágeis, contraditórias, vivas. Por vezes as odiamos, por vezes torcemos por elas. Izel não é um “herói escolhido”, ele não é forte, não possui “o dom”. Mas também não é o “personagem plano” a ser facilmente identificado. E o público não é, em momento algum, subestimado.

As dinâmicas sociais entre maias, mexicas e as heranças olmecas são tratadas de forma que rasura à colonialidade do olhar. Não vemos “estados nacionais adaptados”, mas comunidades urbanas e suas dinâmicas internas e externas, algo bastante interessante.

Há outras questões, algumas críticas (como a estrutura que se monta para a continuidade noutra temporada) que seriam vazias a quem não assistiu. Eu me surpreendi bastante e ainda reflito sobre esta obra em/sobre nossos tempos.

Uma animação em um serviço de vídeos por demanda, valendo-se de algumas estruturas de animações japonesas para expressar uma narrativa fantástica com uma série de questões de nossos tempos. Tudo a partir da visão mesoamericana, repleta de rasuras e provocações.

Muitas coisas interessantes a pensar. Então, novamente, recomendo. Porém, uma advertência: há cenas de violência e muito sangue.

Sugiro a leitura de uma fala da criadora, Sofia Alexander.
www.crunchyroll.com/pt-br/anime-news/2020/11/13/sofia-alexander-criadora-de-onyx-equinox-fala-um-pouco-sobre-o-que-torna-a-srie-to-especial

E aqui, um vídeo de apresentação.
https://youtu.be/B0Zvkb9Z3LQ

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