Escola, inutensílios, livros, jogos, outros mundos

Jorge dos Santos Valpaços
2 min readDec 18, 2020

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Ontem, durante a gravação de um podcast, comentaram sobre a temática escolar recorrente em meus livros (Encantos, Magos Lacunares e Lições). Foi bem legal conversar sobre isso.

A despeito dos limites, críticas e questionamentos em torno das escolas, tenho uma relação muito forte com as mesmas. Ecos se fazem presentes em memórias, corporificadas, inclusive.

Enquanto professor, é impossível não me envolver, não me emocionar a cada ano, turma, a cada pessoa que me relaciono, da portaria à cozinha da escola. A escola é parte de mim há mais de 10 anos noutra posição, orgulhosamente docente (e por isso, aprendiz).

Mais previsível que manga em dezembro, pipa nas férias ou tretas sobre uvas passas nestes tempos são as minhas postagens sobre escola, educação e suas reverberações. Elas disputam com história e jogos narrativos os temas que mais trato em redes sociais.

Faz algum tempo que me defino enquanto amante e amador e, nalguma medida, a escola é parte disso (carregando todas implicações, problemas e efeitos). Não que o sentimento anule a técnica, cisão simplista, fruto de racionalismo que driblo naquele elástico em cima da linha lateral que você sabe bem como é.

Por isso que não é de se espantar que as escolas sejam tão comuns em meus livros. Por exemplo, encantos tornou Ceifadores possível. Pode parecer estranho, mas os dois jogos são, nalguma medida, dialógicos.

Sem ternura, amizade e riso de Encantos, eu não teria forças para concluir Ceifadores. Encantos é o projeto da leveza de uma experiência de vida/jogo sem os Ceifadores. Não é em vão que os poderes de Encantos são criados com a imaginação, com a energia de desenhar outros rumos, caminhos obliterados pelas execuções cotidianas.

Magos Lacunares da Torre Púrpura, escrito com a Priss, é um grande elogio ao ensinar e aprender para além das escolas, para além das convenções. Um processo contínuo, prazeroso, edificante de uma outra sociedade. Ser um mago aprendiz é estar aberto às mudanças, às dúvidas, às outras perspectivas.

Lições encerra este ciclo. Se as condições de aprender (inventividade, ludicidade, prazer e acolhimento) estão em Encantos e os objetivos e processos em torno do processo (transformação social, conhecimento partilhado), Lições mira noutros horizontes.

Ao lidar com os dramas agudizados em um período de mudanças, a escola recebe uma leitura nem um pouco utilitária, sendo uma instância de rito a seus alunos. Um rito que realiza jornadas de amadurecimento e (re)construção de Outros Mundos.

Subvertendo uma leitura meramente escapista ou pragmática, Lições repensa o jogar, a escola e os inutensílios enquanto oportunidades para tornar estes Outros Mundos reais. Outros Mundos que não ignoram dramas, motivações, imagens, afetos, aptidões e aversões, mas são criados com/por estas minúcias.

E é justo por esta razão que meu primeiro romance, Rubro & Roxo, não poderia ser noutro cenário, noutro contexto. Chega a ser curioso que a escola, distante neste momento, tornou-se uma espécie de Outro Mundo a mim.

Eu seguirei me permitindo jogar. Você também pode, por meio de seu apoio ao projeto Lições. Basta acessar: catarse.me/licoes

Você pode conhecer mais sobre Encantos em: bit.ly/encantosrpg

Sobre Ceifadores: bit.ly/ceifadoresrpg

E sobre Magos Lacunares da Torre Púrpura: bit.ly/torrepurpura

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Jorge dos Santos Valpaços
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