Caraminholas
Tenho tido conversas há algum tempo sobre algumas questões que me atravessam sobre jogos narrativos. Faço perguntas, ouço muito. Vez por outra comento. E muito do que tenho experimentado vem destas trocas.
Considero singulares os não-ditos acerca da prática de jogos narrativos além do jogo de mesa mais comum. Ignorar o que estava em jogo nas artes (sobretudo em performances), experimentações na literatura, teatro e pedagogia, provocações contraculturais e também os jogos eletrônicos limita a compreensão do jogo-processo.
A presença de mecânicas que borram o distanciamento das vivências da participante para com a personagem apresentam-se como excepcionais somente quando não estamos atentos às outras linguagens lúdicas de referência aos jogos narrativos.
Outro ponto que vejo como um tanto limitador é uma esquiva constante da análise de jogos narrativos como jogos. É comum tratar jogos narrativos como "excepcionais", "profundamente subjetivos" e aspectos analíticos como avaliar os sistemas de recompensa e punição, condições de vitória e derrota ou o loop do jogo deixam muitos jogos numa "zona cinzenta".
Não que seja obrigatório dominar conceitos ou práticas em torno da criação de jogos. Sou, inclusive, bem crítico ao "você tem de saber x para curtir y". Mas quando a gente explica e conversa com mais detalhes um tema, o debate se qualifica. E acho que todo mundo curte quando podemos trocar ideias saindo de discussões cíclicas sobre o que gostamos.
Um último ponto que penso um tanto, há algum tempo, é no jogo de palavras. Escrever um livro de um jogo narrativo é jogar com as palavras. E são as palavras que ativam os comandos de jogo. Além de escolhas sobre conceitos, avalio o ritmo que a prosa imprime na leitura e tento "modular o tom do jogo" por meio do registro escrito.
Vale destacar que o texto escrito é uma das possibilidades, ainda que seja a mais comum. Pacha, por exemplo, foi publicado em áudio apenas.
Como as redes são voláteis, busco esvicerar estas e outras questões, fazer questionamentos e convites a explorações sobre o jogar nos livros que escrevo, nos jogos que desenvolvo. E Cruzos, A Trupe e O Bonde Fantástico trazem um tanto sobre estas caraminholas. :)