Atualidades

Jorge dos Santos Valpaços
1 min readApr 15, 2019

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Acabo de ouvir que se algo que você apresenta não é “atual” (deste ano/mês/dia/semana), então não é válido. Não sei ao certo como esta formulação foi criada, mas indica um tanto sobre nossos tempos.

Considero importante averiguar, sobretudo quando lidamos com ciência, se a formulação encontra-se defasada, em disputa, criticada, revisada, etc. Entretanto, observo um olhar irônico a tudo que não for novo-recente-inovador (!?) e/ou que se apresenta como diametralmente oposto a um conhecimento constituído.

O que é estranho é que este verniz (pseudo) crítico contradiz os processos de construção de conhecimento científico, uma vez que as validações e críticas por pares são constantes. Inclusive o que é mais comum é que os processos de construção de conhecimento partam de um dado saber estabelecido para propor uma crítica/revisão/superação.

O segundo desdobramento perigoso é o esvaziamento da ciência de base, com a aplicação de teses em diferentes objetos, com análises discretas e demais procedimentos que são extremamente fundamentais para definições de campos de pesquisa, bem como para a exploração das aplicações de formulações teóricas. Nesta leitura espetacular do conhecimento, o técnico laboratorial, o arquivista, e outras atividades são eclipsadas, e cria-se uma estranha imagem da “ciência que importa” e da “ciência que não importa”.

Neste sentido, as “descobertas” e “refutações” ganham relevo e são úteis a argumentos como “estavam escondendo de você isto o tempo todo”; algo bastante eficiente em dada conjuntura. Penso que é importante historicizar a ciência, bem como divulgar a construção do conhecimento como um processo. Tento fazê-lo em aulas, mas a força se esvai.

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Jorge dos Santos Valpaços
Jorge dos Santos Valpaços

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