Algumas notas sobre Ceifadores RPG
Sei que estou no clima da campanha de financiamento coletivo do Magos Lacunares da Torre Púrpura, mas preciso reservar um tempo para Ceifadores, RPG lançado pela Avec Editora no final do ano passado. Não dá pra ignorar a excelente recepção de um livro tão peculiar.
Quinze dias se passaram ao término da pré-venda. Desde então recebo muitas mensagens elogiando o jogo, o projeto gráfico, a evolução na escrita, as mecânicas mais arrojadas e a proposta arriscada e intensa que o jogo possui, chegando a questionar a própria forma que se joga RPG.
Nas entrevistas que concedo, no contato com cada pessoa que deseja saber mais, eu noto o impacto que Ceifadores tem em um primeiro contato. Não é raro, após uma certa explicação sobre o jogo, que o silêncio de "o que está acontecendo" aconteça.
Confesso que fiquei muito preocupado com a recepção do jogo. E não falo de ser um fracasso de vendas, o que felizmente não é. Pelo contrário, ele está vendendo bem mais que Arquivos Paranormais em seu lançamento, por exemplo. Minha preocupação era sobre na abordagem que o jogo poderia ter, e daí ter reescrito cada capítulo duas vezes e ter parado de escrever o projeto revelam bastante sobre essa preocupação. Mas cada comentário que recebo sobre o jogo mostra que estava errado.
É muito bom ouvir de leitores e jogadores a compreensão da jornada trágica em torno da banalização da violência dentro e fora das mesas de RPG. E ver a catarse se espalhando pelas mesas do Brasil é uma das coisas mais marcantes que já tive ao escrever.
Em Ceifadores há muito da minha expressão. Há poesia, contos, diferentes vozes e até mesmo alguns recursos textuais que também estão presentes em Encantos. E aqui entra algo emocionante: tenho leitores que observam minhas buscas, meus percursos, minhas propostas e analisam os livros em perspectiva, comparando a escrita, as mecânicas, os objetivos. Conversar sobre isso mexe demais comigo, e vez por outra uma mensagem numa rede social inicia um papo incrível que por vezes me faz entender melhor. Nos últimos meses eu tenho conhecido pessoas fantásticas, gente que permite se entregar e partilhar emoções por meio de meus jogos. Vocês não sabem como isso me faz seguir em frente.
Ceifadores é o jogo mais intenso que escrevi. Ouso dizer que não vou conseguir fazer nada igual em toda a minha vida. Perder peso, não dormir e não ter vontade de levantar da cama fizeram parte do processo mais visceral de criação que já tive. Quem leu sabe a motivação pra isso, é quem jogou sabe os afetos que isso mobiliza. Mas é estranho, logo depois do livro ser lançado eu fiquei mais leve, curado de alguma doença, como se saísse de um casulo.
Se você jogou, leu, curtiu, peço para que avalie e comente nas plataformas de venda, como a Amazon. Isso ajuda um tanto a alcançar novos jogadores e leitores.
Acho nada que escrevi foi tão marcante e com uma proposta tão aguda, inclusive à cultura lúdica. Ali, em Ceifadores, abracei totalmente o que ensaiava desde Sarjeta, Sereno e Solidão: jogos que rasuram, desconcertam, afetam, emocionam.
Obrigado por jogarem comigo este jogo sobre vida e morte.