Jorge dos Santos Valpaços
2 min readFeb 16, 2024

Aipim, trolho, bumerangue vorpal

Mandioca talvez seja a forma de chamar aipim que mais leio e ouço. Mas aipim é o meu jeito. É uma das comidas que mais curto. Versátil e gostosa. Da farinha à tapioca. Bolinho de aipim. Bolo de aipim. Cuscuz doce. Escondidinho. Biju. Dadinho de tapioca. Biscoito de polvilho. Tudo de bom.

Sem discussões quando ao jeito certo de falar. Regionalismos temperam nossa língua. Pra mim, aipim ganha carinho pois foi como aprendi a saboreá-los, ainda com dentes de leite, acompanhados de um café fresquinho. Eita coisa boa.

Sendo sincero, mandioca tem um verniz melhor. Tá no mesmo barco que tapioca e você consegue sacar bem qual é a estrutura do alimento só pela música que a palavra tem. Mas é justo por isso que gosto de aipim. Aipim é uma palavra boba, ingênua, quase um monstrinho. É uma palavra tão boa por contrastar com a imagem e a estrutura da raiz. Cá pra nós, falantes de brasilês: se aipim tivesse um nome que acompanhasse a sua imagem, seria chamado de trolho, ou algo assim.

É justamente por isso que gosto do oxímoro visual ao topar com um trambolho comestível e chamá-lo pelo nome que daria a um monstrinho de jogo eletrônico.

Porém, macaxeira.

Nota: "Porém, macaxeira" é um belo nome de banda alternativa. Dito isso, voltemos.

Eu sei que você sentiu falta de macaxeira, belo nome pra nossa apetitosa comida. Não aprendi a chamar a macaxeira de macaxeira. Mas confesso que a palavra é ótima. Tão boa que denota outro sentido pra mim, amigo íntimo da polissemia.

Manga é parte da blusa e uma fruta. Há maçã do rosto e maçã do amor. Eu sou um banana e gosto de banana d'água. E (ainda) não comi purê feito com a batata da perna.

Macaxeira é, no dicionário de elocubrações do Valpaçosverso, um arma branca. Um tipo de bumerangue afiado. Um equipamento difícil de usar pois pode decepar o usuário. A família Belmont (a que fundou os botecos gourmet aqui do RJ) usa a macaxeira quando invade castelos e mata monstros. O cunhado do avatar as usa também. Viu só como você já conhece a arma macaxeira? Agora não vai conseguir imaginar outro nome para tal lâmina sibilante. Vou deixar meu aceno à prosódia e ao nonsense na literatura terminar por aqui, já que terminei de tirar o fiapo do aipim com minha macaxeira vorpal.

* Sei bem da origem de línguas de povos originários para o alimento, bem como da relevância do complexo gastronômico de povos indígenas para a formação da nossa mesa. Tampouco intentei defender um ou outro termo. Biscoito e bolacha tão valendo. Macaxeira, aipim e mandioca também. Apenas brinquei com as palavras para criar um texto divertido.

Jorge dos Santos Valpaços
Jorge dos Santos Valpaços

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