Jorge dos Santos Valpaços
1 min readAug 13, 2024

Agridoces

Alunos animados. Aulas rolando bem. Bom desempenho em atividades. Continuidade no plano de curso.

Sala de aula com menos de 20 alunos. Tudo rolando bem. Sem brigas no corredor. Sem gritaria. Tudo fluindo com tranquilidade.

"Foi selada a falsa calmaria". Vários Holofotes do Rappa dá a letra.

Colégio vazio outra vez. Tá rolando até granada na região. Geral refém da cidade policialesca.

Basta não rolarem "operações" na Maré e no Alemão para o básico para se ter uma aula digna. Nem falo de aula boa. Falo de dignidade.

Mas a dignidade deixa de ser possível quando a gente sente o peso do real. Salas superlotadas. Calor infernal. Escola sem funcionários pra fazer a rotina acontecer.

Eu não me contento com o mínimo. Com o sarrafo baixo. Com o medíocre.

Uma parte de mim, risonha, se infla, se exalta, em aulas como as de hoje. A outra, cinza, conclui que nem o mínimo, a rotina simples, nos é permitido.

Quando rola a rotina, não há condições de rolarem boas aulas. Em situações como as de agora, as coisas vão bem. Mas pra quem? A que custo?

Meu diário é um doce servido em todo conselho de classe. Mil folhas de mentiras, decoradas com açúcar de confeiteiro. Você escolhe se o recheio é de chocolate, doce de leite ou creme. Enquanto me sirvo, as camadas de vida me quebram: crocância.

Jorge dos Santos Valpaços
Jorge dos Santos Valpaços

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