Jorge dos Santos Valpaços
1 min readFeb 18, 2019

A cãibra vem. Fazia tempo que não atravessava aquele trajeto tão cedo. Contorno pontos de ônibus repletos. Ando na calçada oposta do cão protetor. Ouço aquela canção no fone de ouvido. Já chego à escola.

Rostos antigos estão lá. Alunos que seguem suas trajetórias. Todo ano é isso. Costumo lecionar para o primeiro ano, então dói um cadinho quando ouço “vai dar aula pro segundo/terceiro ano não?”. Vida que segue.

Mas naqueles rostos novos há mistério, nervosismo partilhado. Como são gostosos os primeiros dias de aula. A turma que não se conhece. A aluna que já está de olho na possível paquera. As perguntas comuns: Torce pra que time? Qual a sua religião? É casado? Qual a sua idade?

Esse ano, mais do que nunca, foco em algo relevante. Minhas aulas serão profundamente marcadas pela metadocência. Divido cada escolha e cada processo com os alunos. Criticamos a escolha de conteúdos e estamos começando a cimentar bases firmes sobre o conhecimento histórico.

Em tempos de avanços anti-academicistas e de ataque à docência, a melhor resposta é a técnica. Vai ter História em sala de aula. Densa, rascante, com o ofício do historiador aberto, com o ensino de História em debate, com a necessidade urgente de análise de fontes e de não atacarmos moinhos de vento.

Sinto-me desafiado e cinicamente desconfiado de termos um presente não muito agradável aos docentes, sobretudo com o que se desenha na BNCC e com a reforma do Ensino Médio. Mas sigamos com o lecionar. Afinal, a disputa sobre o(s) passado(s) sempre é presente.

Jorge dos Santos Valpaços
Jorge dos Santos Valpaços

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